O caso, que aconteceu em 2002, incluiu também a participação de Cristian Cravinhos, irmão de Daniel e Suzane Louise Magnani Muniz na execução do plano que resultou no assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen.
Recentemente, Daniel Cravinhos expressou, através de uma carta aberta divulgada pelo jornalista Ullisses Campbell, seu arrependimento profundo e o desejo de obter o perdão de Andreas von Richthofen, quem ele considera “a maior vítima” deste trágico episódio. Amigos na época dos fatos, as vidas dos dois tomaram rumos dramaticamente distintos após o crime.
Suzane von Richthofen, que cumpriu pena pelo planejamento do homicídio dos próprios pais, foi libertada recentemente e tem buscado reconstruir a vida. Atualmente estudante de Direito na Universidade São Francisco em Bragança Paulista, Suzane vive no interior de São Paulo com o marido e filho. Por outro lado, Andreas optou por uma vida reclusa em uma propriedade da família localizada em São Roque, distante cerca de 450 quilômetros da capital paulista.
Desde 2017, Daniel encontra-se em regime aberto, apesar da condenação se estender até 2041. Ele teme que qualquer passo em falso possa levá-lo de volta à prisão, por isso tem receio em tentar o contato com Andreas, mas redigiu uma carta aberta a ele
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Leia a carta na íntegra
“Querido Andreas, após sete anos de reflexão, finalmente encontro coragem para escrever a você. Sinto-me apreensivo com a sua possível reação ao ler essa carta. Recentemente, tomei conhecimento de notícias suas por meio de amigos em comum e pela imprensa, o que me levou a tomar a decisão de pôr para fora o que estou sentindo.
Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado.
Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu. Hoje, ao praticar motovelocidade, a imagem do seu rosto vem à minha mente. Como seria bom ter você ao meu lado, correndo em uma moto. Lembra do mobilete que construímos juntos?
Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação. Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença. Além disso, sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?
Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele. Lembro do dia da reprodução simulada feita na sua casa duas semanas após o crime, quando você abraçou o Cristian e me olhou emocionado. Quando íamos nos abraçar, os policiais não deixaram. Entendi o seu gesto de carinho como um perdão. Contudo, você era apenas um adolescente. Hoje, você é um homem adulto. Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos.
Desde que saí da prisão, reconstruí minha vida, assim como Suzane, sua irmã. Aos trancos e barrancos, o Cristian também está tentando recomeçar. No entanto, a culpa continua a me perturbar. Parte de minha família me rejeita, e sinto que um dedo acusador aponta para mim constantemente, me lembrando do que fiz. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias.
Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração.
Mas, se você preferir manter distância, respeitarei. Apenas desejo saber o tamanho do abismo emocional que nos separa para saber se é possível atravessá-lo. Hoje, serias capaz de me dar o abraço que não aconteceu 22 anos atrás?
Daniel Cravinhos”.